Maestro Jorge Antunes

Maestro Jorge Antunes:
"A vida imita a arte. Por isso eu faço música engajada politicamente, em busca da justiça social."

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CONCURSO
"PESADELO DOS POVOS"


Respostas corretas:
Idi Amin Dada
Alberto Fujimori


LISTA DOS ACERTADORES:
Alexandre Teixeira Gripp
André Shalders
Carlos Eduardo Amaral
Elke Riedel
Emmanuel Moreira
Fernando Henrique Machado
Ivany Neiva
Jorge Lisbôa Antunes
Juliana Selbach
Lúcia Helena Sá
Sandra Pereiral
Sonia Palhares Marinho
Thelmo Cristovam







quinta-feira, 12 de julho de 2012

O ativismo político na música erudita




O ativismo político na música erudita
Jorge Antunes
Maestro, compositor, membro da Academia Brasileira de Música,
Pesquisador Sênior da UnB, Pesquisador A do CNPq


Fonte: Revista Continente, edição 139, julho de 2012

O rap surgiu na Jamaica na década de 1960, foi levado para os Estados Unidos dez anos depois e, em seguida, se espalhou pelo mundo. A burguesia ficou apavorada. As letras da nova manifestação artística falavam das dificuldades da vida dos habitantes de bairros pobres. O protesto social, a irreverência e a pregação da violência chegaram a amedrontar os donos do poder.
Mas o poder de fogo do rap começou a cair quando, na década de 1990, o gênero despertou o interesse da indústria fonográfica. Hoje, completamente recuperado, tornou-se manifestação comercial e foi absorvido pelo sistema. Dessa forma, as falas ritmadas do MC já não assustam a ninguém. Tudo se tornou banal, comercial e bom para dançar. Não são apenas os jovens pobres que dançam. As dondocas e as patricinhas também entram na onda. O rap de protesto e o funk se fazem presentes até mesmo nas novelas da TV Globo.
Platão, em seu programa ético-musical da República, estudou as reações emotivas da massa popular. Jean-Jacques Rousseau, no século 18, detalhou alguns aspectos do fenômeno, lembrando que o intervalo de terça maior excita o sentimento de alegria, podendo chegar a imprimir ideias de furor. A terça menor, ao contrário, leva as massas à tristeza, despertando ternura e suavidade. Não é à toa que todos os hinos nacionais, além de usarem ritmo marcial, são escritos em modo maior. Observa-se, por outro lado, que quase todos os cantos religiosos e fúnebres são em modo menor. As reflexões de Platão e Rousseau se juntam a muitas outras que se seguiram, para demonstrarmos o poder de fogo que a música tem para influir nos destinos do homem e para formar mentalidades. Sou daqueles que acreditam que a vida imita a arte.
Em 1966, quando a ditadura militar reprimia violentamente as manifestações estudantis na Cinelândia, no Rio de Janeiro, escrevi uma obra para orquestra de cordas e fita magnética intitulada Dissolução. Como eu já estudava Física, todo mundo pensava que o título de minha peça tinha conotação extra-musical com algo de científico, de Química: a “dissolução” de alguma substância em laboratório. Mas, na verdade, a conotação era política e de contestação. Na obra tento descrever, com sons, a dissolução, feita pela polícia, de uma manifestação estudantil na rua. Na fita, além de sons eletrônicos, uso ruídos dramáticos de vidraças quebradas.
Naquela época não era fácil se fazer música engajada politicamente. Eu conseguia fazer, mas sempre de modo velado, disfarçado. A censura e a perseguição caiam sempre sobre qualquer obra de arte que insinuasse, em seu conteúdo ou em seu título, algo referente às questões sociais e políticas. Os autores de obras daquele tipo, então consideradas subversivas, passavam a ser perseguidos pelo donos do poder e até mesmo discriminados pelos próprios colegas artistas. Quem era amigo de um subversivo, corria risco de também ser considerado subversivo.
Hoje, os historiadores são sempre limitados quando analisam a censura praticada contra a produção cultural na época do regime militar. Eles se atêm ao estudo da repressão sofrida pela imprensa, pela literatura e pela música popular. Desconhecem, totalmente, a censura que foi imposta, pelo regime militar, à música erudita brasileira.
Em abril de 1964 minha canção Cabra da Peste, escrita para voz de barítono e piano, foi censurada pela direção da Rádio MEC do Rio de Janeiro. Para que fosse tocada no programa Jovens Compositores do Brasil, produzido por Dieter Lazarus, fui convidado a fazer nova gravação nos estúdios da rádio, desde que mudasse a letra da música.
Não faltaram, no passado, histórias de compositores brasileiros, na área da música erudita, que viveram uma fase de ativismo político através da música. Cláudio Santoro compôs, em 1953, sua Quinta Sinfonia, também conhecida como Sinfonia da Paz, com texto da poetisa comunista Antonieta Dias de Moraes. Gilberto Mendes, que à época estudava com Santoro, também escreveu canções engajadas politicamente usando poemas da mesma autora. Da mesma época data a obra Canto do Soldado Morto, de Eunice Katunda, com texto do poeta comunista Rossini Camargo Guarnieri. Por volta de 1973 o compositor paulista Willy Corrêa de Oliveira passou a compor unicamente obras musicais com fins de doutrinação política, militando junto às Comunidades Eclesiais de Base. Mas essa postura foi abandonada alguns anos depois.
Esses exemplos correspondem a fatos esporádicos e efêmeros, ocorridos circunstancialmente nas vidas daqueles compositores. Alguns deles, logo após aquelas experiências, voltaram a fazer arte pela arte. Outros chegaram até mesmo a virar casaca e condenar aquelas suas próprias posições do passado. Esse foi o caso, por exemplo, de Claudio Santoro. Em 1979, num debate realizado durante a Bienal de Música Contemporânea Brasileira, Santoro declarou que renegava todo aquele passado de engajamento político e que se arrependia de ter defendido ideias de esquerda e de tê-las embutido em algumas obras.
Assim, são raros, no Brasil, casos de compositores de música erudita que abraçaram e nunca mais abandonaram o ativismo político por meio da música, tal como aconteceu em outros países. Podemos citar, como exemplos dessas exceções: o alemão Hanns Eisler, o inglês Cornelius Cardew, o italiano Luigi Nono, o chileno Sergio Ortega, o italiano Luca Lombardi, o austríaco Wilhelm Zobl, o grego Thanos Mikroutsikos e o norte-americano Frederick Rzewski.
Intelectuais sempre tiveram, e continuam a ter, enorme responsabilidade com relação ao presente e ao futuro da humanidade. São eles os que, detentores de credibilidade, conseguem tribunas e espaços para fazer eco às suas convicções políticas. Por essa razão acredito ser obrigação do compositor não se encerrar em uma torre de marfim. O compositor que se tranca em torre de marfim é um compositor criminoso.
A música popular, mesmo aquela de protesto, sempre foi rapidamente adotada como mercadoria pela indústria fonográfica. O rap e o funk também seguiram a mesma trajetória. Mensagens políticas construídas para a venda, não convencem a ninguém.
A música erudita moderna e de vanguarda é a única vertente musical que resta, ainda hoje, não recuperada pelo sistema. Assim, ela passa a ser, ou a continuar a ser, o único suporte capaz de dar credibilidade a mensagens extra-artísticas de cunho social ou político.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Ao buzinar, não confunda Jericó com jerico





Jorge Antunes

Por favor, não confunda Jericó com jerico. Hoje vamos pegar em armas, nossas buzinas, mas estejamos certos de que muitos jericos ainda continuarão a falar em nosso nome, dizendo nos representar. Hoje não é 11 de setembro: é um simples 11 de julho. O foco de nossas trombetas, hoje, é um só: Torres. Mas a vez dos outros chegará.
Não estaremos inovando, hoje ao meio-dia, quando em torno do Congresso Nacional soarmos nossas trombetas. Fizemos isso em 1984 quando demos início à derrubada das muralhas da ditadura. Mas também ali, há 28 anos, não estávamos inovando. O povo já agia dessa forma há mais de 3 mil anos. Na famosa batalha de Jericó, nos idos do século 13 a.C., trombetas –muitas delas– se ouviram. A população escutou estrondoso e mágico som. Resultado: as muralhas ruíram.
No Livro de Josué encontramos a narração dos fatos: "Gritou, pois, o povo, e os sacerdotes tocaram as trombetas. Tendo ouvido o povo o som das trombetas e levantado grande grito, ruíram as muralhas, e o povo subiu à cidade, cada qual em frente de si, e a tomaram.”
Nossa ação, embora aguerrida, é poética, pacífica e musical. Nos tempos de Josué o bicho pegava feio: “Tudo quanto na cidade havia destruíram totalmente a fio de espada, tanto homens como mulheres, tanto meninos como velhos, também bois, ovelhas e jericos.” (Josué 6:20-21).
Jerico é um dos nomes dados ao jumento, o conhecido animal mamífero perissodáctilo (Equus asinus), que recebe também o nome de asno. Ele é facilmente domesticável, muito difundido no mundo e utilizado desde tempos imemoriais como animal de tração e carga. Interesses escusos, externos a seu habitat, os domesticam por meio de um alimento chamado propina. Esta palavrinha tão simpática vem do Latim: propino, as, avi, atum, are. Ela significa dádiva, gorjeta, gratificação. Mas etimologicamente quer dizer “dar a beber”. Em outras palavras, o estudo etimológico nos leva à compreensão do fenômeno através do qual o suor e o sangue do povo é bebido, sorvido com sofreguidão pelos jericos.
Jericos são usados para tração e carga. Servem para realizarem deslocamentos importantes. Caixas e malas cheias de denaro, colocadas à disposição desses asnos, são deslocadas, por mais pesadas que sejam, para lugares distantes e inatingíveis. A força do animal é grande. Jericos são usados para transporte de cargas. Empresários, empreiteiros e outros profissionais, resolvem seus problemas de carga tributária com a ajuda dos asnos. Algumas vezes outras classes se sentem prejudicadas. Mas os jericos voltam à carga. Servem àqueles cujas cargas horárias são livres, não precisando trabalharem muito.
Jericó é outra coisa. É uma cidade que tem mais de 9 mil anos. Na Bíblia hebraica ela está presente na descrição do encontro da Terra Prometida: "Então, subiu Moisés das campinas de Moabe ao monte Nebo, ao cimo de Pisga, que está defronte de Jericó; e o Senhor lhe mostrou toda a terra de Gileade até Dã." (Deuteronômio 34:1).
Jericó é também referência importante no Novo Testamento: em Mateus, em Marcos, em Lucas e na Epístola aos Hebreus. A cidade está situada às margens do rio Jordão, a aproximadamente 27 km de Jerusalém. É conhecida como o lugar do retorno dos escravos, liderados por Josué, o sucessor de Moisés. Ou seja, foi uma espécie de quilombo. O povo pobre, perseguido e explorado ali acorria em busca de trabalho, liberdade, cidadania e felicidade.
Aqui também vivemos fenômeno semelhante, quando o povo pobre trabalhador, no final dos anos 1950, aqui acorreu em busca da construção da terra prometida. O primeiro assentamento permanente de Jericó foi construído próximo a Ein as-Sultan, entre 8000 e 7000 a.C. Vários assentamentos foram construídos em seguida. Evidentemente, cidades-satélites surgiriam.
Dominadores de Jericó, ao longo da História, foram vários: califados, dinastias, cruzados. Estes últimos reconstruíram mosteiros e igrejas novas: igrejinhas. Os cruzados, na verdade, determinaram a desgraça do povo. Fenômeno parecido com a catástrofe, aqui, provocada pelos Planos Cruzados.
Tal como aqui, em Jericó houve golpes militares. O Livro de Jeremias descreve o fim do rei da Judéia, Zedequias, quando ele foi derrubado em Jericó: "Mas o exército dos caldeus os perseguiu e alcançou a Zedequias nas campinas de Jericó; eles o prenderam e o fizeram subir a Ribla, na terra de Hamate, a Nabucodonosor, rei da Babilônia, que lhe pronunciou a sentença." (Jeremias 39:5).
Na parábola do Bom Samaritano Jesus faz menção a um certo homem que estava a caminho de Jericó. Mas é preciso não confundir um certo homem com um homem certo. “Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de bandidos que o espancaram, deixando-o meio morto. ... Juízes e autoridades deixaram-no de lado. Mas um samaritano deitou azeite e vinho em suas feridas”.
Jericó foi desde o início um centro administrativo. Foi um estado particular para Alexandre o Grande. Depois veio a ser dominada por generais que construíram alguns fortes. Cleópatra arrendou Jericó para Heródes. Ele supervisionou a construção do hipódromo-teatro (Tel es-Samrat) para divertir seus convidados. Algo parecido com o que acontece em Brasília com o Mané Garrincha.
Às trombetas! O Livro de Josué nos ensina. Torres, muralhas, corruptos, jericos, não se sustentarão eternamente se bem afinarmos os decibéis de nossas buzinas.

domingo, 8 de julho de 2012


COM NOSSAS BUZINAS DERRUBAREMOS TORRES


CAAAAAA . . . . . . . . . . . SSA

Soneto octossílabo das buzinas


Jorge Antunes


Brasília tem sons de quietude,

a gente em silêncio se afina.

A paz é uma nossa virtude:

vivemos aqui sem buzina.


Porém, se nos falta a justiça,

se o mal do tirano domina,

mudanças verás na premissa:

a gente recorre à buzina.


Se nossa esperança é pó,

a luz-liberdade ilumina

o grito, a voz, o gogó.


Mudamos então a rotina,

tal como um clamor Jericó:

Buzina! Brasília, buzina!


O maestro Jorge Antunes, o autor da famosa Sinfonia das Buzinas de 1984, está chamando a população do DF para um baita buzinaço em torno do Congresso Nacional, para o dia 11, quarta-feira, exatamente ao meio-dia.

Lá dentro do Congresso estará acontecendo a votação secreta de cassação do senador Demóstenes Torres.
Aos congressistas que votarão secretamente, vamos mostrar o clamor ensurdecedor das buzinas que derrubarão Torres.
A música? Será simples.

Apenas uma sucessão de acordes, ritmicamente juntos:

CAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.....SSA

ou seja, um som longo seguido de um curto, um som longo seguido de um curto, um som longo seguido de um curto, um som longo seguido de um curto, um som longo seguido de um curto, um som longo seguido de um curto, um som longo seguido de um curto, um som longo seguido de um curto, …


Compareça!!!!!
Quarta, dia 11 de julho

meio-dia

em torno do Congresso Nacional