Jorge Antunes
Como
é sabido, dez chapas concorreram no primeiro turno das eleições
para reitor da UnB. A militância de esquerda se dividiu no apoio a
seis diferentes chapas. Não estou interessado, no momento, em
analisar os motivos que levaram a essa divisão. Os militantes que
destinaram seus apoios a candidaturas diferentes, têm, todos, suas
alegações, seus motivos, seus argumentos, que merecem respeito,
compreensão e tolerância.
Essa divisão foi surpreendente e constrangedora, ao
ponto de ter sido evitada a discussão sobre a questão. Também não
aconteceu a conversa e a discussão entre as militâncias ligadas aos
diferentes apoios. Cada um tinha sua opção, e não houve sequer a
intenção ou a prática de apoiadores de uma candidatura pretender
ou tentar persuadir outros militantes, apoiadores de outras
candidaturas. Resumindo: cada um ficou na sua, sem questionar o
outro.
O resultado do primeiro turno surpreendeu a muitos, mas
não a mim. Vão agora para o segundo turno as chapas que vêm
representando o mais recente antagonismo identificado –até como
moda– na UnB: o petismo e o timothismo. O surpreendente é o
seguinte: essa dicotomia se repetiria fosse qual fosse o método de
aplicação de pesos nos votos dos três segmentos. Foram vencedoras,
com o modelo de paridade adotado, a chapa petista e a chapa que a
esquerda chama de “timothista”. Mas, ao fazermos levantamento e
análises das quantidades de votos depositados nas urnas nos dias 22
e 23 de agosto, verificamos que essas duas chapas ganhariam da mesma
forma, se o método fosse o das proporções 70-15-15 ou se o método
fosse o do voto universal. Os números comprovam isso.
Evidentemente existirão contestações a essas
projeções e hipóteses, pois que muitos dirão que a greve afastou
os estudantes das urnas. Não levo em consideração esse argumento,
porque o índice de abstenções não foi muito maior do que os
índices de abstenção em outras eleições do passado, em que não
era vivida situação de greve. Não sendo obrigatório o voto, o
índice de abstenções sempre se mantém igual aproximadamente.
É evidente, para os mais esclarecidos, que a chapa
petista não se formou de repente, do nada, por amor ou paixão de um
grupo de apoiadores. O Estado sindicalista que se instalou no Brasil
há mais de uma década cresceu e se organizou como um grande monstro
altaneiro que manobra sobre as cabeças dos pobres cidadãos mortais.
A perpetuação no poder é o objetivo. Um grande polvo se sobrepõe
ao grande povo. O grande polvo espalha seus tentáculos por todo
lado, por todos os meios, para alcançar seus objetivos.
Os tentáculos do grande polvo já são velhos
conhecidos que ganham espaços por meio da compra de consciências,
usando altos financiamentos com recursos públicos. Com essas compras
são conquistadas consciências e votos parlamentares via mensalão,
são conquistadas consciências sindicais via CUT, são conquistadas
consciências estudantis via UNE, são conquistadas consciências
acadêmicas via Reuni, são conquistadas consciências
pseudo-representativas da comunidade acadêmica via Proifes, são
conquistadas consciências populares via bolsa-família. Os
tentáculos do polvo precisam alcançar os corações das
Universidades brasileiras. O grande projeto privatista precisa
fortalecer todos esses tentáculos.
Mais uma vez o antagonismo se impõe: o projeto de uma
reitoria representando o governo junto à comunidade universitária,
se impõe sobre o velho projeto derrotado de se ter uma reitoria que
represente a comunidade universitária junto ao governo. Enfim, o
sonho da autonomia universitária mais uma vez tem sua morte
anunciada.
Não me é possível avaliar qual será pior: se uma
reitoria petista apoiada pelo projeto nacional e amplo de cunho
privatista, ou se uma reitoria timothista apoiada pelos privatistas
tradicionais.
Fica
difícil escolher entre o projeto privatista da direita e o projeto
privatista da esquerda.
Mas o antitimothismo se impregnou nos discursos
esquerdistas de tal forma, com tamanha magnitude, que passa a cegar
qualquer desavisado. Todo mundo tem medo, pavor, de ser tachado de
timothista. A acusação, então, passa a ser o divisor de águas.
Passa-se a acreditar que nada será pior que o timothismo. Sabe-se
que a expressão não quer dizer coisa alguma. O sufixo ismo, na
expressão, não tem nada a ver com filosofias, escolas, ou vertentes
ideológicas. O seu acréscimo à palavra timothy se refere
simplesmente a questões éticas e morais.
Com essa pecha, com essa acusação, com esse câncer,
com esse estigma, o petismo se aproveita para ganhar mais apoios. E
os novos apoiadores, cegos, acabam se esquecendo de que o petismo é
entreguista e privatista, aliando-se ao capital, aos empreiteiros,
aos empresários, aos banqueiros, para se perpetuar no poder. A real
democracia não está na pauta de nenhuma das duas chapas finalistas.
Nenhuma das duas defende a realização da Assembleia Estatuinte
paritária.
Por essa razão a posição mais coerente, aguerrida,
consequente, será, sem a menor sombra de dúvida, o não apoio a
nenhuma das duas chapas e a pregação do voto nulo.